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Não vá tão longe que não possa retornar

É estranho escrever esse texto de retorno. Principalmente depois de tanto desejar isso e ao mesmo tempo descrente de que poderia acontecer. Eu praticamente passei o ano todo longe daqui, a ponto de esquecer a hospedagem por completo e ficar com o blog fora do ar por três meses inteiros por falta de pagamento. Eu pensei: “Que diferença faz? Não consigo lidar nem com os meu problemas, que dirá planejar o conteúdo de posts que eu gostaria de publicar e escrevê-los, de fato”. Larguei mão, ainda que triste.
Mas o motivo do meu sumiço vai muito além disso, por isso vou contá-lo do jeito que eu faço melhor: sem medir palavras.

Logo após o início do ano passei por algo muito chato, mas que, acredito eu, talvez a maioria das pessoas enfrentaria o ocorrido sem grandes problemas. No meu caso, o que pesou foi o acúmulo de situações e fases desagradáveis se desenrolando já há algum tempo na minha vida – anos, pra ser exata. Chega uma hora que uma coisa minúscula pode desencadear um verdadeiro caos no seu comportamento, na sua mente e até mesmo na sua saúde física. E é difícil ter o controle da situação quando isso acontece.
De qualquer forma, apesar dos meus momentos de melancolia eu sempre fui muito positiva nos meus textos – e quero continuar assim. Seria uma tortura pra mim mesma fazer do meu blog uma espécie de muro das lamentações. O meu ponto, é: quando escrevo algo pessoal aqui, minha intenção não é transparecer a origem do problema, mas focar em como estou lidando com isso.

Me senti tão deslocada e vazia que eu não tinha vontade de fazer mais nada, e frequentemente desabafava no imenso vácuo das redes sociais. O retorno disso era o meu próprio eco. Mas ainda assim era mais forte do que eu, afinal, botar pra fora é preciso.
Me decepcionei com muita gente e com muitas situações nesse período, então desativei e desinstalei minhas redes sociais – com exceção do instagram – e me coloquei numa redoma de vidro. Se eu tivesse me limitado a somente isso, teria enlouquecido. Porém, antes que isso acontecesse, praticamente em seguida fiquei sabendo de um curso completo de coreano para nível I, ministrado por pessoas que moram na Coreia e que eu já acompanhava há algum tempo por seus trabalhos individuais. Seria meu sonho? Sempre tentei estudar coreano sozinha, pois na cidade em que moro não temos esse curso. E essa tentativa funcionava bem até certo período, mas eu acabava desistindo quando passava por algo ruim e, consequentemente, isso tirava meu ânimo pra tudo.

Então (usando o trocadilho de forma infeliz), uni o útil ao agradável e aproveitei essa reclusão usando o estudo como uma alternativa para não pirar de vez, de modo que só consegui focar nisso desde então. Não consegui repassar esse foco para outras coisas que gostaria, como a minha loja, as reportagens para o Centro Cultural Coreano, o meu blog, livros e qualquer resquício de vida social. Imagine perder o ânimo com tudo que você gosta e que já te fez bem? Final de abril foi o ápice do meu esgotamento (curiosamente foi o período em que tirei as selfies e fotos mais bonitas – a gente faz de tudo pra se auto aceitar e não transparecer de verdade o vazio que realmente nos ronda).
Em maio procurei uma psicóloga e então veio meu diagnóstico: depressão e transtorno de ansiedade. Não foi nem de longe uma surpresa. Explicou muita coisa, pra ser sincera. Mas nem por isso foi menos assustador. Bom… ninguém gosta de confirmar algo assim.

Tudo era (e ainda é) um esforço enorme. Mesmo me dedicando muito, acabei me atrasando em alguns módulos no início do curso, chegando a mandar e-mail para os professores explicando a minha situação. Eu nem precisava, porque por ser um curso online, cada aluno tem liberdade de fazer o mesmo no seu próprio ritmo e cronograma, e independente disso o material continuaria na plataforma. Mas eu ficava triste e com peso na consciência quando não conseguia acompanhar, então senti necessidade de me explicar. Quem me conhece sabe que tenho isso em mim: ficar me desculpando e me explicando.

Felizmente, depois de certo tempo eu finalmente engatei numa rotina intensa de estudos e, com muito custo, a mantive sem olhar pra trás: / / / . Foram 16 apostilas, um fichário cheio de anotações, muitas caras de “WTF”, mas um sentimento de gratidão incrível pela troca com os professores. Meus olhinhos brilhavam a cada conteúdo aprendido. E agora que já estou com meu certificado não vejo a hora de continuar na próxima turma em 2018. Mas claro que nada é perfeito e existiram recaídas. Elas ainda existem, e surgem nos momentos mais inapropriados possíveis. Porém encontrei utilidade na minha teimosia natural e a tenho usado para me forçar a ficar de pé.

No meio disso tudo, tentei praticar mais o amor próprio e me presentear com pequenas experiências que, possivelmente soem bobas, mas refletiram em grandes vitórias pra mim. Acredito que a principal delas foi ir ao Rock In Rio completamente sozinha.
Porque é aquela velha história: se você for esperar pelos outros pra fazer algo que tem vontade, corre o risco de deixar a oportunidade passar. E chances assim vem a calhar quando tudo que você mais quer é conseguir curtir a sua própria companhia.

O show foi como uma recompensa pessoal pra mim, e foi lindo. Não me contive no dia e chorei baixinho, fazendo uma prece em pensamento. E com um sorriso de orelha a orelha agradeci por ter chegado sozinha até aquele instante, pela oportunidade de ver um artista que eu gosto tanto e pelo qual as letras de suas músicas me ajudaram mais do que qualquer um em dias difíceis.
Já me dei conta de que, mesmo com medo e relutante por dentro, sempre me submeto a enfrentar certas situações pra testar a minha coragem ao estar por conta própria. E seja no lazer ou no estudo esse é o caminho certo, certo? Citando Matt Haig:

“Uma das maneiras de avaliar meu progresso era saber até onde eu seria capaz de caminhar sozinho (…) E acho que ajudou. É realmente exaustivo estar sempre diante do medo e tentando enfrentá-lo, mas aparentemente funcionava”.

A depressão e a ansiedade estão aí, e os problemas de saúde que eu driblo a cada dia também (inclusive esse post e tema novos deveriam ter saído há duas semanas atrás, porém não rolou porque fiquei doente pela milésima vez no ano). Mas acho que eu – e tantos outros – podemos nos permitir sentir orgulho de nós mesmos por coisas talvez banais aos olhos dos demais, como terminar um livro, levantar da cama, ir num show sozinha ou completar os 16 módulos do seu curso de coreano. Merecemos nos sentir orgulhosos de nossas conquistas. Todas elas. E eu estava louca pra voltar pra isso aqui. Que bom que eu consegui retornar ♡.

Priscila Cardoso

Pri, 33. Tento romantizar a minha vida encontrando beleza e significado em tudo que vejo, sinto, vivo e escrevo. Publico minhas reflexões desde 2008 – o que rende a mim mesma um bom entretenimento, pois me surpreendo ao notar o quanto mudei desde então –, mas escrevo desde pequena. Já é um fato consumado que tanto a escrita quanto a leitura sempre foram – e ainda são – a minha melhor companhia.
  • Clayci

    É tão bom ter vc de volta.
    Sei que vc se ausentou, mas continuei te acompanhando nas redes ativas. Fico feliz que o pior tenha passado e estou torcendo para que as coisas boas não acabem <3

    Bem vinda novamente

    30 de novembro de 2017 at 13:11 Responder
  • Mari Duarte

    Oi prih!
    Fico feliz de ver que você voltou com o blog, adoro ler o que escreve. O layout ficou lindinho demais, espero que te dê um ânimo para postar mais aqui.
    Seu texto mexeu bastante comigo, descobri que tenho transtorno de ansiedade tem 1 ano e olha, tem dias que não é fácil. Não sei quantas vezes já pensei em desistir de tudo, mas tento lembrar sempre dos meus objetivos. Cada um tem seu caminho a trilhar, não sei pelo que você já passou, mas espero que você seja forte pq essa parte complicada da vida vai passar e gosto de acreditar que se algo acontece é pq vc será capaz de superar.
    Adoro suas fotos do instagram sobre seus dias de estudo, tô até cogitando fazer um curso também mas tô estudando pra concurso e fazendo um curso de photoshop e programação tb hasuishasu não vou me sobrecarregar mais. Espero que você aprenda coreano e realize esse que só mais um dos seus sonhos.
    Eu assisti o show do shawn pela tv e fiquei imaginando como você devia estar feliz lá, sempre que vejo algo dele lembro de ti na hora. E que anjo ele é, né?
    Quero te conhecer logo para poder te dar um abraço bem forte!!! Sei que você vai conseguir superar todos suas dificuldades. Precisando é só chamar <3

    30 de novembro de 2017 at 11:52 Responder
  • Paula Januzzi

    Seria tão fácil tomar um comprimido e não ter nunca mais que lidar com isso né? Tipo uma gripe, tomou um xarope o no dia seguinte ta 10/10. As vezes fico desanimada pensando que, pra aprender a lidar com coisas como ansiedade e depressão precisamos fazer um esforço diário. Muitas vezes só tinha vontade de dormir e ver o tempo passar pq nada fazia sentido mais. Mas estamos aí né? :) Espero que esteja melhor e que fique melhor a cada dia e que o coreano fique cada vez melhor tbm :D Não nos conhecemos pessoalmente mas você é uma pessoa muito querida e ver que voltou com o blog é muito bom <3

    29 de novembro de 2017 at 23:43 Responder

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