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Se achar que precisa voltar, volte

E cá estou, como quem não sumiu e deixou esse lugar em hiato por quase cinco anos. Pessoalmente, sinto como se tivesse sido no mínimo uns dez. Nesse meio tempo ocorreram mudanças consideráveis e necessárias na minha vida, e outras ainda estão no processo de acontecer. Mas, sem dúvida a principal mudança foi aqui dentro, internamente. Eu nunca descartei completamente a possibilidade de voltar, mas honestamente essa possibilidade parecia cada vez mais distante. Ler os meus antigos registros que escrevi com tanto carinho aqui é similar a fazer uma viagem no tempo, como se eu entrasse no quartinho nostálgico do meu inconsciente, onde ficam as memórias do que vivi na minha adolescência e início da vida adulta. Há partes que me fazem sorrir e suspirar, já outras me deixam um tanto apreensiva por hoje notar sinais que claramente eu ainda não enxergava na época. Porém tudo é uma soma da minha história, então acolho com gratidão cada fragmento compartilhado, cada palavra escrita. Eu não sou mais aquela pessoa, ao passo que ao mesmo tempo sou, pois ela faz parte de mim. E eu sempre me orgulhei da minha capacidade de soltar os meus pensamentos no papel, seja este real ou virtual. Não ironicamente, após me ausentar daqui voltei para o papel de vez e tenho enchido páginas e mais páginas de journals escritos à mão, desde 2019. Estes tem me ajudado absurdamente, tanto para compreender as minhas emoções, trabalhar o meu amor próprio, observar padrões que repeti por anos, acolher as minhas dores, admirar as minhas conquistas e notar os meus progressos. Perceber o quanto cresci, o quanto mudei, qual é o meu papel nesse mundo e nessa vida terrena; como posso ser alguém melhor e como posso melhorar os ambientes nos quais escolho me inserir. Mais do que isso, essa mudança de cenário fez com que eu expandisse a minha escrita para outras formas, pois passei a postar publicamente poemas e textos pessoais voltados para reflexões existenciais acerca da minha vida.


Estou no processo de encontrar a mim mesma, de aceitar os meus erros e também a minha intensidade, de me permitir arriscar e de nutrir amor pela pessoa que me tornei até esse exato momento. Tenho preservado a minha paz, me levado para passear, feito cursos, testado hobbies, me dedicado à minha espiritualidade – e quando digo espiritualidade, me refiro ao meu autoconhecimento e não à uma religião, pois as pessoas tendem a confundir ambas e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Estou aprendendo a tentar parar de me encaixar em lugares que não me cabem mais, que me causam ansiedade ou que simplesmente não contribuem para a minha saúde mental. Estou me doando, mas sabendo quando é hora de parar. Estou refletindo sobre o impacto que eu tenho na vida das pessoas mas, principalmente, no impacto que causo na minha própria vida.

Não muito tempo atrás, pude me dar um dos melhores presentes que já me dei até então: uma viagem solo para outro país. Através dela pude expandir minha visão de mundo, me conectar com pessoas mais velhas, da minha idade e de diferentes nacionalidades. Cozinhávamos juntos, sentávamos juntos à mesa, passeávamos juntos a pé, de ônibus, de carro. Compartilhávamos histórias e conselhos também. Ninguém realmente se conhecia, mas, de alguma forma, tudo fluía. O espaço de cada um era respeitado e a paz reinava de tal forma que nunca experienciei tal coisa na minha vida. Os donos da casa foram muito queridos comigo e a esposa do anfitrião chegou a dizer que já me sentia como uma filha. Ela me deu de presente um livro de sua coleção pessoal e que mantenho guardado com muito carinho. Enquanto estava lá fiz muitas atividades sozinha também. Usufruí da minha solitude ao máximo e isso foi revigorante. Como é bom não ter medo da sua própria companhia, de estar a sós com a sua mente, de aproveitar o silêncio e saber curtir a si mesma. Mas as pessoas que eu encontrei fizeram toda a diferença. Cada uma delas foi acolhedora comigo, teve empatia e mostrou-se pronta para ajudar. E ali, mais do que nunca eu percebi que ser gentil com o próximo só agrega, só soma. Todo mundo ganha. E voltei pra casa disposta a plantar ainda mais gentileza, para comigo mesma e para quem atravessasse meu caminho, apesar do que viessem a me oferecer ou não. Pois demonstrar é preciso.


Eu escrevo porque nem sempre sei o que eu realmente penso até que eu de fato leia aquilo que escrevi. E eu acredito que tenho coisas boas para compartilhar e que merecem ser lidas por mais pessoas e que talvez, quem sabe, possam até ajudar mais delas, ressoar com elas, trazer algum conforto ou ao menos fazê-las refletir. Ou talvez não, e tudo bem também. De qualquer forma, nunca é sobre quantas pessoas eu vou atingir e sim sobre o quão verdadeira eu estou sendo comigo mesma; sobre o que o meu coração gosta, sobre o que a minha alma vibra e sobre quem eu sou. E eu sou assim. Por isso voltei.

Priscila Cardoso

Pri, 33. Tento romantizar a minha vida encontrando beleza e significado em tudo que vejo, sinto, vivo e escrevo. Publico minhas reflexões desde 2008 – o que rende a mim mesma um bom entretenimento, pois me surpreendo ao notar o quanto mudei desde então –, mas escrevo desde pequena. Já é um fato consumado que tanto a escrita quanto a leitura sempre foram – e ainda são – a minha melhor companhia.
  • Amanda

    Pri, eu admiro você desde a época do Coreano Online que foi quando eu conheci o seu perfil. Você é o tipo de pessoa que dá vontade de acompanhar independente do que estiver fazendo. Você passa uma coisa boa, é dedicada e faz com que a gente fique atraída por vc, sabe? Eu não sei explicar, mas vc é assim! Sinto falta de ver mais sobre vc como antes, então fiquei feliz com essa volta do blog e espero que ela traga mais Pri pra gente! hahahaha

    Um beijo!

    19 de setembro de 2024 at 14:01 Responder

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